ATA DA QUADRAGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 18.10.1989.

 


Aos dezoito dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Quinta Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Francisco Spina, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 138/89 (Proc. 2513/89), e homenagem à Direção e Funcionários do Restaurante Copacabana pelo transcurso dos seus cinqüenta anos de atividades ininterruptas. Às quatorze horas e cinqüenta e um minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalida­des presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Prof. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito de Porto Alegre; Sr. Francisco Spina, Homenageado; Sr. Vittorino Rotondaro, Cônsul Geral da Itália no Rio Grande do Sul; Capitão Paulo César Natálio, representando o Comando do 9º Batalhão de Polícia Militar; Prof. Dante de Laytano, Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras; Sr. Biagio Sanzi, o Biaginho, da Diretoria do Restaurante Copacabana; e Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Após, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo, como autor da proposição e em nome das Bancadas do PDT, PT, PMDB, PTB e PCB, discorrendo sobre a história pessoal do Homenageado, destacando suas qualidades na cozinha italiana, e ressaltando a importância social do Restaurante Copacabana. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. João Dib, como requerente da homenagem à Direção e Funcionários do Restaurante Copacabana, e pelas Bancadas do PDS e PL, falou da importância social para a comunidade porto-alegrense do Restaurante Copacabana, saudou o trabalho da Direção e dos Funcionários desse estabelecimento, salientando o aspecto de amizade e cordialidade que predomina naquele ambiente. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, congratulou-se com o Ver. Valdir Fraga e com o Ver. João Dib pelas proposições, afirmou se tratar de uma justa homenagem. Afirmou que o Restaurante Copacabana é um local que reúne a todos os cliente como amigos. E o Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, teceu comentários acerca da tradição e cultura que envolvem o Restaurante Copacabana e a personalidade do Homenageado. Discorreu sobre a universalidade dos temas que tem como palco o referido estabelecimento. Em continuidade, o Sr. Presidente registrou a presença das seguintes personalidades: Sr. Romildo Valandro, Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Entretenimento e Lazer no Rio Grande do Sul; Dr. Clóvis Ilgenfritz da Silva, Secretário do Planejamento Municipal; Sra. Judith Dutra, Primeira Dama do Município e Presidente do MAPA; Dr. José Carlos de Mello D’Ávila, Diretor-Presidente da EPATUR; Jornalista Laerte Méliga, Coordenador do Gabinete Executivo do Sr. Prefeito Municipal; ex-Vereador Ábio Hervé; Dr. Fernando Lucchese, Diretor do Instituto de Cardiologia; Sra. Virgínia Villa-Lobos, Viúva do saudoso Carlos Nobre; Irmãos Rocco, Rosália e Filomena Spina, Cunhada Maria Spina, representando os familiares do Homenageado. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Prefeito Municipal de Porto Alegre, Prof. Olívio Dutra, o qual falou do ambiente fraterno e de camaradagem que se encontra naquele estabelecimento, comparando-o com o Restaurante enfocado no filme “Casa Blanca”. Parabenizou-se com este Legislativo pela concessão do Título Honorífico ao Sr. Francisco Spina. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Sr. Prefeito Municipal, do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, de Medalha, pelo Ver. Valdir Fraga, e de Placa comemorativa, pelo Sr. Rocco Spina, ao Sr. Francisco Spina. Após, concedeu a palavra ao Sr. Francisco Spina que agradeceu a homenagem, afirmando receber tal Título com emoção, tendo em vista significar o reconhecimento de seu trabalho. Às quinze horas e quarenta e cinco minutos, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convidando as autoridades e personalidades presentes a passarem  à Sala da Presidência, e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária que reiniciaria a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Valdir Fraga e secretariados pelo Vereador Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário,  determinei fosse lavrada a presente Ata que, após ser distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.  

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Senhores e senhoras, a história de Francesco Spina se confunde com a história do Restaurante Copacabana, que por sua vez reflete o que há de melhor nesta área em nossa Cidade, por suas características específicas.

Natural de Morano Calabro, na Itália, Tio Chico, como é conhecido, com todo seu charme, sua inteligência, sua educação, sua cultura, seu carinho e sua força de vontade, faz amigos a cada dia, da forma mais italiana possível.

Sem esquecer suas origens, e juntamente com os demais familiares e o saudoso Leonardo Vitola, integraram-se à sociedade porto-alegrense e nos (...) o “Copa”, como é conhecida a sua casa gastronômica, reduto de turistas, boêmios, jornalistas, políticos, artistas, entre outros.

Palco de muitas decisões importantes para a Nação brasileira, muitas vezes num canto ou em outro daquele simpático restaurante está se discutindo e tomando decisões. Não só tomando uma cervejinha ou mesmo uma água mineral com limão, mas está se tomando mil decisões, tanto para nós, Prefeitura, como para o Palácio Piratini. Reuniões de Governadores, Senadores, Deputados, Prefeitos e Vereadores, e paridos políticos, em todas as épocas, de qualquer ideologia, têm espaço no seu Restaurante Copacabana. Chico Spina, representa, aqui, hoje, aqueles milhares de imigrantes que silenciosamente ocuparam o solo gaúcho, com o objetivo de vencer e somar-se ao crescimento de nossa sociedade. São muito mais gaúchos que muitos gaúchos que andam por aí.

Chico Spina é um vitorioso como os cinqüenta anos do Copacabana, hoje comemorados, o atestam, para a glória de seus freqüentadores e para a glória de Porto Alegre, que hoje o acolhe como um filho ilustre.

Está nascendo, hoje, o Chiquinho, o nosso Chiquinho aqui, mas o Chicão de todos nós. Que o seu futuro seja tão promissor quanto o foi à frente destes anos na gerência do Copacabana. O nosso abraço. Muito obrigado. Fique conosco por muitos e muitos cinqüenta anos que aí irão chegar.

Um abraço deste que representa as Bancadas do PDT, a sua Bancada, a Bancada do PT, do PMDB, do PTB e do PCB.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. João Dib, que fala em nome da Direção e funcionários, tendo em vista que o mesmo é requerente da homenagem à Direção e funcionários do Restaurante Copacabana, pelas Bancadas do PDS e do PL.

 

O SR. JOÃO DIB: Meus queridos Francisco Spina e Biagio Sanzi, hoje, homenageados desta Casa pelos 50 anos que o Restaurante Copacabana completa. Srs. Vereadores, meus senhores e minhas senhoras, amigos do Chico e do Biagio. Não há nada mais importante do que poder dizer “meu amigo” e nós, que aqui estamos, hoje, podemos dizer amigo Chico, amigo Biagio, quando nós não os chamamos de irmãos.

Era dia 18 de outubro de 1939, e os irmãos Leonardo e Francisco Vitola, italianos, bona gente, compravam e instalavam o Restaurante Copacabana. Bem administrado e bem cuidado, hoje está fazendo 50 anos. Cinqüenta anos que muito da história de Porto Alegre, do Rio Grande e da história política, cultural, artística, esportiva foram escritos nas mesas do Copacabana. Copacabana que foi crescendo e, em 1949, há 40 anos atrás importava uma nova figura, o Chico, e ele vinha dar a sua contribuição, para que aquele Restaurante, que era bom, pudesse até ser melhor. Quatro anos depois vinha o Biagio, Biaginho que todos amamos e gostamos e dava também sua contribuição. E as empresas tem um privilégio diferente de impor um paradoxo, paradoxo feito à lei geral da vida: quanto mais velhas es empresas, mais jovens; quanto mais antigas, mais renovadas. E o Chico, o Biagio, com os irmãos Leonardo e Francisco mantiveram sempre jovem esta empresa que, hoje, tem 50 anos e que hoje dirigida pelos dois ainda tem um dos representantes dos fundadores, Sr. Francisco Vitola, trabalhando com eles.

Cinqüenta anos onde a amizade floresceu. E eu disse que era importante poder dizer: tenho um amigo. Lá no Capacabana se entra estranho e se sai amigo, porque amizade não se impõe, amizade se conquista, e se reafirma todos os dias. E é por isso que, hoje, sem muito esforço esta Casa está repleta. O Chico, o Biagio que estão sendo homenageados, o Copacabana, que está sendo homenageado. Porque lá no Copacabana se encontra a alegria, se encontra o canto, a história, se encontra, também, a irreverência do Chico. O Chico não sabe ficar quieto. Mas, isto é bom porque é espontâneo, sai do fundo da sua alma, assim como do fundo da alma do Biagio sai a emoção, sai a amizade que os dois sabem cultuar, são amigos, são fraternos e todos nós gostamos deles.

Mas, também, não se pode dizer que apenas os dirigentes fazem o prestígio de uma casa. É importante, então, neste momento, que não só o Sr. Francisco Vitola, o Sr. Biagio e o Sr. Francisco Spina, o Sr. Leonardo e seu filho José Vitola, a Dona Rosária Spina Vitola sejam homenageados. Mas o trabalho deles só foi possível, porque há muitas pessoas que estão lá, há muito tempo, dando o melhor de si, e porque eles sabem difundir amizade, sendo amigos da Casa e daqueles que freqüentam a casa. Então lá está o Seu Adão Oliveira Pereira, aquelas moças da cozinha, Luiza Mesquita, Catarina, Nair, Guiomar, Neuza, Leopoldina, Gládis e Celeste. E há, também, os garçons que a gente, ao entrar, vai recebendo um sorriso amigo, acolhedor, e já vai-se sentindo tranqüilo, porque vai saber o melhor prato para aquele momento. Mas, principalmente, porque vai ter sempre a atenção de cada um deles. Lá está o Wilson, o Camacho, o Dirceu, o Flávio, o João, o Mauro, o Rogério e também até há pouco tempo o Davi, pois terminou a casa, porque tem que progredir, têm que crescer, e é claro que todos nós queremos que todos cresçam. Por essa causa é que estamos formulando votos ao mesmo tempo que aplaudimos o trabalho realizado até agora, formulando votos de que o Copa continue o Copa carinhoso e prestigiado, mas cada vez mais prestigiado para que o Chico e o Biaginho possam dar a nós, seus amigos, a satisfação de vê-los contentes, felizes, porque estão fazendo desta Cidade, lá no seu restaurante, um ponto de encontro de muita gente, sobretudo um ponto de alegria, onde em todas as mesas se come muito bem, a amizade floresce e muitas tristezas desaparecem. Então, aos dois e a todos que de forma ou de outra labutam lá no Copacabana, e aos amigos do Chico e do Biagio o nosso abraço e o nosso desejo de toda felicidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella, que fala pela sua Bancada, o PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Meus senhores, eu tenho dito em algumas oportunidades em que é possível, que esta é uma Casa em que se discute de tudo, normalmente, as nossas Sessões principalmente nesta época, são Sessões difíceis, tensas. Nós estamos no processo de elaboração da Lei Orgânica do Município, estamos lutando – e acho que concluímos hoje – para fazer um Regimento Interno adequado que consiga dar para Porto Alegre uma Lei Orgânica boa e isto é uma dificuldade, são discussões e mais discussões, cada um dos 33 Vereadores tem a sua forma política e especial de se pronunciar, temos que analisar o Orçamento que o Prefeito nos encaminhou, há poucos dias, uma peça imensa, difícil, trabalhosa, há assuntos e problemas de toda ordem, mas chega um momento em que há unanimidade nesta Casa. E há também uma coisa que às vezes eu também digo, em que há algumas divergências, porque se discute a Sessão Solene e se discute até a questão dos Cidadãos Eméritos de Porto Alegre. E uma vez um me disse assim: vocês só concedem estes títulos para autoridades. Efetivamente, para algumas autoridades são concedidos estes títulos. Há poucos dias, recebeu aqui um título o Embaixador Thompson Flores, que nasceu na Bélgica e que, quando perguntavam a ele onde tinha nascido, ele tinha vergonha de dizer que era Embaixador brasileiro e era um estrangeiro, porque nasceu na Bélgica. E ele dizia a todos uma inverdade, informando que tinha nascido em Porto Alegre. Pois vejam a importância que têm as raízes de uma pessoa. E estamos agora na busca, acho que todos nós, das nossas raízes. Multiplicam-se, em Porto Alegre, os encontros de conterrâneos, multiplicam-se os encontros de pessoas de etnias diferentes nesta busca das origens, que é uma característica de todo o ser humano. E nós temos, hoje, não uma Sessão para discutir coisas onde não há unanimidade. Estamos reunidos, hoje, para discutir uma das poucas unanimidades desta Cidade. E, já de pleno, retiro aquela imagem que citei de que esta Câmara homenageia somente autoridades. Não, nós homenageamos aquelas pessoas que merecem o reconhecimento desta Cidade, não aquelas autoridades pomposas. Não! Tem alguns aqui que são Cidadãos de Porto Alegre, o Biágio Rimoli, a D. Josefina, Cidadãos de Porto Alegre, e aqui, nesta simplicidade, nesta simpatia, e nunca foram umas grandes autoridades, que têm efêmeros 4, 8 anos, algumas vezes mais, o poder, e uma notoriedade, e depois somem. Alguns, mas estes não. E é por isso que fiz questão de ressaltar tanto o Copacabana, como o Chico. Copacabana que aprendi a conhecer pelo Carlos Nobre, e quando cheguei a Porto Alegre, achava que não existia o Chico, os Vitola, o Biágio, pensei que fosse invenção do Carlos Nobre. Eu imaginei que fossem personagens de ficção e, quem sabe, às vezes, eles sejam mesmo, porque quem consegue, nos nossos dias, reunir seus amigos aqui, um português, o Valdir Fraga, um libanês, o Dib, um italiano como eu, e o Ferri. Quem consegue, como a irmandade dos italianos proprietários de restaurantes que tem, dentre seus conselheiros, um judeu, um alemão, e que não são donos de restaurante, mas estão lá, em todas as reuniões, todos os meses, nesta irmandade de amigos que, efetivamente, constituem os amigos do Copacabana e do Chico. E é por isso, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, meus senhores, que hoje estamos nesta Sessão, e agora vamos passar para o homenageado especial, o Chico, do qual já foi dito quase tudo, e não vou repetir todos os motivos pelos quais esta Casa lhe concedeu o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Já foram colocadas, aqui, todas as qualidades do Chico, ele é amigo dos ricos, dos poderosos, dos pobres. Eu me lembrava, agora, do Jonhson. Vi a foto dele no jornal, ele é uma personalidade desta Cidade, um cantor, um cozinheiro, um boxeador, um amigo da Casa, uma personalidade desta Cidade que só tem este encontro com a comunidade porque lá no Copacabana é uma reunião de amigos. Aquilo não é um restaurante, não é uma casa comercial, é uma reunião de amigos.

Neste dia, então, eu queria, finalmente dizer o que é para mim a síntese do Chico Spina. Há poucos dias esta Cidade, com uma série de problemas, com dificuldades, pela primeira vez fez uma festa na semana ibero-italiana e se pediu ao Chico que ele se encarregasse da comida. E ele, nos primeiros momentos, praticamente recusou; não tinha tempo, não dava para trazer, não contassem muito com ele, estava muito velho, mas podia dar uma mãozinha. Depois, ele daria uma mãozinha no molho. Ele ensinaria a fazer o molho. Depois ele mandaria – junto com o Biaginho – a massa. E no dia, lá, qual a minha surpresa, estavam previstos 400 comensais, apareceram 850 e o cozinheiro, lá, mexendo na massa, mexendo no molho, trazendo a massa, e servindo, estava lá o nosso homenageado Chico Spina. Isto é que é pessoa humana e é por isso que o senhor tem hoje o reconhecimento de todos os seus amigos e, principalmente, da Cidade de Porto Alegre. Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Omar Ferri, que fala pela sua Bancada, o PSB.

 

O SR. OMAR FERRI: Minhas senhoras e meus senhores, Vereadores, autoridades aqui presentes. Acho que a Casa, hoje, está realmente engalanada e realiza um ato público da maior grandeza para esta Câmara e para o Município de Porto Alegre. Eu até nem gostaria de falar o que o Chico representa em matéria de tradição, de cultura e de artes, das muitas infindáveis ocasiões em que ele nos encanta, comandando, sempre, um grupo unido de italianos, comandando com suas canções arrancadas a muitos anos do âmago da Itália e as faz presente e integra-se no coração e no sentimento da alma dos amigos brasileiros.

Até deixaria de lado este aspecto daquilo que o Chico represente em matéria de cultura, de tradição e de arte. Têm duas pessoas aqui, também, que eu quero mencioná-las, que é o Biagio e o Biaginho, como irmãos meus, mas embora eu os considere como irmãos, porque são, realmente, grandes no sentimento e grandes no coração. Eu me permitiria destacar, hoje, não como obrigação da solenidade, mas como uma imposição da verdade, aquele algo mais, uma espécie de aura que acompanha o Chico onde quer que ele vá. É, possivelmente, a aura da amizade, uma aura tão grande cheia de coração, de bondade, de espiritualidade – é tão forte esta aura que ele não consegue reprimir. Ela se externa, se transfere e toca no coração dos seus amigos. Não tem, desafio, não tem alguém como o Chico que não seja estimado por todos. Esta é uma grande realidade, é uma grande verdade, é uma evidência: uma evidência cósmica porque a aura de uma pessoa faz parte do cosmo. O Chico já não é mais o cidadão da Itália, não é o italiano, não é o comerciante que veio aqui e venceu. Ele não venceu no sentido comercial. Ele veio aqui e venceu porque encontrou irmãos e amigos, e para estes ele só trouxe alegrias e felicidades.

Portanto, o Chico para nós é um homem do mundo e sendo um homem do mundo, ele é um homem brasileiro, e sendo um homem brasileiro ele é, acima de tudo, de hoje em diante, um homem porto-alegrense, porque antes de hoje, já era o homem que eternamente, insopitavelmente batia nos quartos da amizade dos compartimentos de nossos corações. Obrigado por esta oportunidade. Que este ato, esta solenidade para mim e para o meu partido que abraça o Chico com satisfação de quem faz um círculo de amizade e de cultura que parte da Baixa Itália, passa para a Região Vêneta e vem para cá e floresce este Brasil com o toque da alma italiana muito bem representada por Chico Spina. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Prefeito Olívio Dutra.

 

O SR. OLÍVIO DUTRA: Senhoras e Senhores Vereadores, Senhoras e Senhores presentes nesta Sessão, eu não posso fugir a uma comparação. Toda vez que entro no Copacabana, e anteriormente entrava como um cidadão comum e nem era notado, e toda a vez que entro no Copacabana é como se eu entrasse num ambiente que há muito tempo me martela no meu imaginário. Eu penso que estou entrando no Casablanca e que o Michel Curtis, quando filmou “Casablanca” tinha que ter se inspirado, certamente, num bar como o Copacabana. Mas é claro que eu não encontro lá o Humphrey Bogart, nem a Ingrid Bergmann, nem os seus personagens, o Rick e o Laszlo, mas encontro o Chico Spina, o Biaginho, os garçons, as cozinheiras e todo um ambiente, um espaço fraterno, de camaradagem e de muita discussão dos mais variados e diversificados temas e assuntos. O Copacabana é um espaço democrático e eu penso que nenhuma ditadura poderia prejudicar aquele espaço. Aliás, penso que no tempo da ditadura, o Copacabana era uma espécie de ventre, era um espaço em que os que encontravam lá fora o clima opressivo encontravam-se ali dentro para pensar e falar da forma mais livre e libertária possível e, inclusive, articular a luta contra a ditadura. Por isso também ele é parecido com o Casablanca, o restaurante do Humphrey Bogart, cujo famoso filme leva o mesmo nome. Eu quero terminar dizendo que me lembro bem da cena do “Casablanca”, quando o Humphrey Bogart está curtindo uma dor-de-cotovelo antiga e chega a Ingrid Bergmann e ele olha e diz: “Com tantos bares no mundo, esta mulher vem logo chegar no meu bar”. Eu quero dizer que o bar-restaurante Copacabana na verdade é um bar de todos nós e não há bares e restaurantes no mundo que se prezem que não tenham um pouco do nosso Copacabana. E isso tudo se deve ao Biaginho, ao Spina e aos seus familiares.

Em nome do Executivo e da Administração Popular, o nosso abraço e a satisfação de estarmos, junto com o Legislativo Municipal, prestando ao Spina esta homenagem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Dr. Antônio Carlos Pereira, Juiz da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada. É uma honra recebê-lo.

Neste momento, convidamos os presente para, em pé, assistirmos à entrega do Diploma de Cidadão de Porto Alegre ao nosso homenageado. Convido o Exmo Sr. Prefeito Municipal para que proceda à entrega do título.

 

(O Sr. Prefeito procede à entrega do Diploma.)

(O Sr. Presidente faz a entrega da medalha.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Sr. Rocco Spina a fazer a entrega da placa alusiva à data.

 

(O Sr. Rocco Spina procede à entrega.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao Sr. Francisco Spina, registrem-se as presenças, em Plenário, das seguintes personalidades: Sr. Romildo Valandro, Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Entretenimento e Lazer no Rio Grande do Sul; Dr. Clovis Ilgenfritz da Silva, Secretário do Planejamento Municipal; Srª Judith Dutra, Primeira Dama do Município e Presidente do MAPA; Dr. José Carlos de Mello D`Ávila. Diretor-Presidente da EPATUR; Jornalista Laerte Méliga, Coordenador do Gabinete Executivo do Sr. Prefeito Municipal; ex-Vereador Ábio Hervé; Dr. Fernando Lucchese, Diretor do Instituto de Cardiologia; Srª Virgínia Villa-Lobos, viúva do saudoso Carlos Nobre; Irmãos Rocco, Rosália e Filomena Spina, cunhada Maria Spina, representando os familiares do Homenageado.

Com a palavra, o Sr. Francisco Spina.  

 

O SR. FRANCISCO SPINA: Boa tarde senhores, eu antes de mais nada, antes de ler o meu discurso, queria dizer só duas palavras mais simples. Eu tenho, diversas vezes, encontrado os amigos na rua e eles dizem o seguinte: o Restaurante parece um reduto de PDT, daqui a pouco vem outro e diz, o Restaurante parece um reduto do PT, enfim, de todos os partidos parece que seja um reduto. Agora, para mim não é o reduto, para mim é um acolhimento de todos os meus amigos, políticos, enfim, tudo que passa pela minha frente são todos os meus amigos e meus irmãos, era isso que eu queria dizer antes de ler a placa do meu querido irmão.

(Lê) Placa: “Ao tio Francisco uma recordação pelo título de Cidadão de Porto Alegre, que homenageia a todos nós, conquistado com amizade, trabalho e honestidade, meu irmão Francisco Spina e família. Porto Alegre, 18 de outubro de 1989”.

Meus Senhores e minhas Senhoras. Confesso-lhes que ao transpor a porta de entrada deste Palácio Municipal, apossou-me de mim uma emoção tão forte que devo- lhes dizer: Estou vivendo um dos grandes momentos da minha existência.

O título que, por votação unânime, me está sendo conferido pelo órgão Legislativo desta Cidade, devo à dedicação tenaz que sempre tive pelo trabalho, fator de elevação que dignifica o homem.

Reconheço, sem alusões a minha pessoa, que na área do meu conhecimento, ou seja, a culinária, sempre me dediquei com muito amor e muito trabalho, ramo no qual sempre amealhei muitas amizades, desde o mais humilde até o mais graduado, e a todos sempre os recebi com o coração aberto, sem fazer distinções, eis que seguindo os ensinamentos recebidos de meus familiares, jamais existiu em mim qualquer espécie de preconceito, quer político, racial, ou religioso, eis que considero a todos como filhos de Deus, meus irmãos.

Antes de embarcar para a América e tendo por objetivo o Brasil, procurei me aconselhar com o meu saudoso pai, Joseppe Spina, recebendo deste o integral apoio, eis que já conhecia a América. Neste momento, ainda escuto a voz amiga a me dizer: Vai, estuda ou trabalha, e se puderes faça os dois, pois no Brasil encontrarás um povo ordeiro e trabalhador. Dedica-te a ele, pois seu futuro é promissor. Lá está o coração do mundo.

Corria o ano de 1949, e no mês de maio cheguei ao Rio de Janeiro. Encantado com a beleza natural que se apresentava diante de meus olhos, vi o Cristo Redentor com seus braços abertos, abençoando a Pátria que me acolhia. Senti, naquele momento, que este País antes de estar ligado ao coração dos homens por qualquer tipo de injunção, está ligado ao coração de Deus.

Vim, naquele mês, mais precisamente no dia 20 para esta Cidade, a convite de meu saudoso tio, Rocco Vitola e seus filhos, Francisco Vitola e Leonardo Vitola, este, mais tarde, veio a ser meu cunhado. Ao ser acolhido pela família Vitola, a qual já estava radicada nesta Cidade, recebi a oportunidade de estudar, ou trabalhar. Optei pelo trabalho. Fui levado para o Restaurante Copacabana e, ali, me dediquei à arte culinária, onde continuo até os dias de hoje, procurando na profissão que abracei, sempre, a cada dia que passa, aperfeiçoar-me. Confesso, ainda, que recebi preciosas orientações do amigo e saudoso, Natale De Mare que foi proprietário do Restaurante, hoje extinto, Gran Líclios Natal. A Natale De Mare, meu saudoso amigo aproveito esta oportunidade, para mais uma vez lhe ser agradecido.

Embora tenha feito alguns cursos, posso lhes afirmar que, na arte culinária, sou um autodidata, podendo assegurar: todo aquele que se dedica a uma profissão, com muito amor, vontade e persistência, será nela um vitorioso. Através dela, sempre com tenaz dedicação, estará contribuindo para o progresso, colocando a sua cooperação na construção do edifício do bem comum.

Não devo esquecer, também, das lições recebidas do emérito e saudoso professor universitário, Francisco Carvalho, o qual me ensinou sobre relações humanas no trabalho. Ao saudoso mestre e amigo, Francisco Carvalho, neste momento, o meu humilde, porém sincero agradecimento.

Não foi fácil atingir o objetivo que procurava. Muitas e muitas vezes, preocupado com os compromissos assumidos, passava na calada da noite, pensando, estudando a maneira de melhor fazer, a fim de não decepcionar aqueles que davam a preferência pelo meu modesto trabalho. Graças a Deus, que sempre me ajudou, satisfiz a todos, recebendo elogios pelo que apresentava. Devo lhes dizer que ao longo dos anos, muitas foram as alegrias, intercaladas, naturalmente, por momentos difíceis. Um dos momentos difíceis, de grande preocupação, foi a aquisição do prédio, onde hoje funciona o Restaurante Copacabana. A situação em que se encontrava, ou seja, alugado, impedia o desenvolvimento regular das reformas que o mesmo carecia, eis que na qualidade de locatário e vivendo sob a tensão da denúncia vazia, impedia os melhoramentos, as reformas. Nessa ocasião, recebi a integral solidariedade da Secretaria da Saúde, quando a dirigi-la, o Dr. Jair Soares. Também recebi o apoio da SMOV, tendo a frente desta o Dr. Móses do Carmo. Igualmente da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, quando Prefeito o Dr. Célio Marques Fernandes, bem como dos demais órgãos da municipalidade. A todos, enfim, os meus sinceros agradecimentos, pela solidariedade emprestada, naqueles momentos difíceis.

Em 1977, com o esforço conjunto de meu sócio, Sanzi Biagio e o incentivo dos amigos, conseguimos adquirir a propriedade e, de imediato, fazer os melhoramentos que o imóvel tanto necessitava podendo, assim, apresentar ao nobre povo desta Cidade, um estabelecimento digno de Porto Alegre. Hoje posso lhes dizer que, no progresso desta Cidade, o Restaurante Copacabana está enquadrado. E, se é justo que ao longo de quarenta anos, posso me enquadrar no progresso desta Cidade, entre aqueles que deram sua parcela de colaboração para o desenvolvimento da mesma, devo ao trabalho que, honestamente, sempre desenvolvi. Ao incentivo do ordeiro e trabalhador, povo gaúcho, bem como a credibilidade que sempre depositei, nos homens que dirigiram e dirigem esta nossa Porto Alegre.

Deixo os meus sinceros agradecimentos ao Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, bem como aos demais Vereadores que no desempenho de suas funções, estão fazendo o progresso de Porto Alegre e escrevendo a sua linda história. Deixo o meu profundo agradecimento a todos que me distinguiram pelo título que hoje recebo, bem como a todos que me honraram com a presença. Hoje, posso lhes dizer que tinha razão meu saudoso e querido pai: aqui pulsa o coração do mundo. E a esta Pátria, que é minha, também, e a esta Cidade que generosamente me acolheu, devo tudo o que sou. Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h45min.)

 

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